Schnapp, J.T. & Michaels, A. (2012). The Electric Information Age Book: McLuhan / Agel / Fiore and the Experimental Paperback. New York: Inventory Books.
Recensão O presente livro da autoria de Jeffrey T. Schnapp e Adam Michaels, tem como título The Electric Information Age Book e como subtítulo McLuhan / Agel / Fiore and the Experimental Paperback, baseando-se por isso na série de livros produzidos entre o editor Jerome Agel e o designer Quentin Fiore, que teve no livro The Medium is the Massage, elaborado em conjunto com o autor Marshall McLuhan, o apogeu dessa colaboração.
The Electric Information Age Book é também ele um projecto colaborativo entre o escritor Jeffrey T. Schnapp e Adam Michaels, tendo ficado a cargo deste último a edição e o design. Adam Michaels é também o fundador da editora Inventory Books da qual este livro é a terceira publicação, descrita pelo mesmo como uma “plataforma para a síntese de pesquisa textual e visual na transformação de espaços urbanos e da cultura”.
O livro The Electric Information Age Book encontra-se estruturado em torno da temática do livro em formato paperback[1], em particular aqueles desenvolvidos por Fiore e Agel entre 1966 e 1975, cujas características — formato mais pequeno do que o convencional, recurso à fotografia e ao uso da tipografia em termos “tipofotográficos”[2] (pág. 31, a partir de Laslo Moholy-Nagy), entre outros – se disseminaram, “fundando um novo vernáculo verbo-visual” (pág. 32). Estes paperback marcaram de forma significativa uma fase do sector editorial e dos media, ficando conhecida como “a época da [informação] eléctrica”[3] à qual o título faz referência.
A narrativa central do livro The Electric Information Age Book assenta na premissa de que The Medium is the Massage abriu portas para um tipo de publicação inovador em resposta à introdução quotidiana da televisão, devendo por isso ser alvo de um estudo minucioso. Nesse sentido é dedicado um capítulo extenso a contextualizar, descodificar e explorar conceptual, textual e estilisticamente The Medium is the Massage, desfragmentando a sua mensagem e a construção da mesma, com vista a particularizar os vários detalhes que foram depois aplicados, de forma semelhante, a outras publicações. Este capítulo intitulado “An Inventoy of Inventories” — em sintonia com o subtítulo do original The Medium is the Massage: An Inventory of Effects —, enquadra The Medium is the Massage e os livros que lhe seguiram, na temática “alternativa aos livros tradicionais” (pág. 27), a que Schnapp e Michaels apelidam de “livros inventário”. Em consequência, é feito um resumo histórico de “livros inventário”, alguns produzidos por Jerome Agel em colaboração com Quentin Fiore (War and Peace in the Global Village, Marshall McLuhan; I Seem To Be a Verb, R. Buckminster Fuller) outros apenas de Jerome Agel (The Making of Kubrick’s 2001; Other Worlds, Carl Sagan; etc.) e ainda outro apenas de Quentin Fiore (Do it?, Jerry Rubin).
Com o encerramento destes textos segue o segundo e último capítulo intitulado “Case Studies”, onde é feita uma curta observação a alguns “livros-exemplo” que apesar de não contarem com a participação de Agel ou Fiore, reflectem as suas influências e, de uma maneira ou de outra, replicam as teorias dos “livros inventário”. Terminada a narrativa principal do livro, pode-se concluir que The Electric Information Age Book é, primeiramente, uma revisão bibliográfica catalogada, factual e detalhada de “livros inventário”, com vista a anotar o efeito e o significado que o paperback teve para a teoria dos media, a publicação e o design gráfico.
Em termos paratextuais (prefácio, introdução e posfácio), o tipo de informação contida nestes elementos é bastante distinta da presente na narrativa principal. Começando pelo prefácio da autoria de Adam Michaels, é neste texto produzida uma reflexão baseada no livro The Medium is the Massage e no significado que o mesmo representa para o próprio Michaels, influências que o levaram a fundar a editora Inventory Books. É também estabelecido um paralelismo entre os livros concebidos ao “estilo-Massage” (pág. 9) e os livros “tendencialmente Fordistas”[4] (pág. 9) em que os intervenientes da produção editorial não se interceptavam.
A introdução ficou a cargo do designer Steven Heller. Partindo de um ponto de vista pessoal, Heller focou-se na relação que os livros de Agel e Fiore criam com o leitor, pelo facto de serem visualmente tão apelativos como o texto, descrevendo-os como “textos visuais (…) ‘filmes entre capas’ ” (pág. 14). Steven Heller também desenvolve a importância que este tipo de abordagem tem para a classificação do paperback como uma referência literária igualmente importante à dos livros tradicionais.
O posfácio, da autoria do designer Andrew Blauvelt, traduz um pensamento que vem no seguimento das inovações alcançadas pelos “livros inventário”, da qual o designer Quentin Fiore é o centro das atenções. Desta forma, o posfácio é um apanhado das ideias do “designer-autor” que começam em The Medium is the Massage, passando por Bruce Mau e o livro S, M, L, XL (pág. 217), assim como Michael Rock e o artigo The Design as Author (pág. 219), a editora-estúdio-de-design Winterhouse (pág. 224), entre outros, endereçando consequentemente um convite à reflexão sobre o papel do designer gráfico na publicação editorial. Em suma, estes três elementos paratextuais manifestam-se como o ponto de partida de bases históricas e reflexões contemporâneas para as questões que envolvem o papel do designer no processo de publicação.
Em termos de contextualização da relevância de The Electric Information Age Book para a actualidade, podemos concluir que — não sendo a primeira vez que os “livros inventário” são revisitados[5] e sabendo que pelo crescente interesse do papel autoral/editorial do designer não será certamente a última —, The Electric Information Age Book será provavelmente o mais completo compêndio de informação processual do livro The Medium is the Massage concebido até à data, assim como um óptimo recurso para o estudo das teorias e linguagens — reflectidas no paradigma editorial e até mesmo na percepção que existe actualmente sobre o media livro — que procederam a sua publicação.
Estruturalmente, The Electric Information Age Book é uma aproximação aos “livros inventário”, contendo uma re-interpretação bem elaborada do estilo visual desenvolvido por Fiore, “consistindo em textos corridos pontuado por recursos visuais”[6] e que tem na capa o pináculo dessa concepção gráfica. Importa no entanto referir que livros como The Meddium is the Massage tinham mensagens curtas, propícias àquele tipo de linguagem. Devido ao conteúdo extremamente aprofundado, The Electric Information Age Book é, no meu entender, um livro de estudo, apropriado enquanto elemento de pesquisa ou para um leitor que reconheça as obras abordadas e estabeleça uma ligação de proximidade com as mesmas. A utilização de The Electric Information Age Book noutros contextos poderá tornar-se monótona pela repetição de dados factuais num elevado nível de detalhe. Nesse sentido, a estruturação editorial em conformidade com os “livros inventário” disposta através de uma longa narrativa, está em contra-ponto com a sua natureza investigativa, factual, idealmente realçada pelo recurso a secções mais curtas, permitindo ao leitor navegar de assunto para assunto, folheando em aleatoriedade, algo necessário a um objecto de estudo que almeje uma orientação eficaz.
Em conclusão, apesar dos valores da sua materialização estrutural serem questionáveis num contexto editorial idealista, The Electric Information Age Book e a sua correcta percepção não ficam comprometidos. Desta forma, The Electric Information Age Book estabelece-se como um livro instrutivo para um público especializado, em particular das áreas de interesse do design gráfico, da produção editorial, da teoria dos media e das áreas de intersecção entre estas, apresentando um estudo muito significativo para a história do design gráfico — com especial enfoque nas décadas de 60/70, no livro The Medium is the Massage e nos eventos que o procederam —, podendo por isso ser um ponto de partida para uma reflexão sobre o futuro da publicação e do papel do designer nesse contexto. por Rui Moreira
[1] em português é comum referir-se a estes livros como “livro de bolso” ou “capa mole”. No entanto, esta última expressão será menos correcta, uma vez que “livro capa mole” será todo o livro que na sua composição não tenha uma capa cartonada, não significando por isso que seja um paperback. [2] a palavra original é typophotography. [3] Marshall, McLuhan (1962). The Gutenberg Galaxy. Toronto: University of Toronto Press. [4] a frase original é Fordist tendencies em analogia ao método de produção em massa iniciado por Henry Ford. [5] outras referências: McLuhan, Marshall & Carson, David (2011). The Book of Probes. Lupton, Ellen & Miller, J. Abbott (1993). Eye Magazine. Volume 2, número 8. [6] Heller, Steven (2012). The Revenge of the Paperback Book. Ed. online.