Artigo Desde o início do século XX que a informação tem vindo a assumir um papel particularmente importante no quotidiano dos cidadãos. Primeiro, através das transmissões via rádio e depois, via televisão, esses meios de comunicação iniciaram um advento electrónico que viria a trazer a massificação da informação, originando mudanças muito profundas na forma como nos organizamos em sociedade. Vivemos actualmente o pináculo desse evento transformador. A introdução do computador substituiu, em parte, o papel dos media que o precederam, sendo actualmente o acesso à internet o meio pelo qual a maioria dos cidadãos ocidentais vivencia a “aldeia global”[1].
Simultaneamente, na construção da União Europeia pode-se encontrar algumas das características globalizadoras dos media da era da “aldeia global”, promovendo ambos a proximidade, a participação, a partilha e uma consequente solidariedade. No entanto — apesar do acesso ao conhecimento fomentado por esta época, assim como o potencial unificador dos ideais europeus —, encontramo-nos, dentro do espaço europeu, tão próximos como isolados.
Existe pois uma grave crise económica capaz de explicar, em parte, esse antagonismo. Uma situação que tem atacado, coincidentemente ou não, países europeus periféricos, como é o caso de Portugal. Uma crise que é, indubitavelmente, foco de exclusão, pela crítica falta de emprego, obrigando muitos jovens instruídos a emigrar, forçando outros a regressar para casa dos pais abdicando da sua independência, empurrando ainda muitos outros para a rua, sem tecto nem afecto. Uma crise que é por isso, uma restrição ao futuro dos cidadãos, prejudicando acima de tudo, os mais jovens. Mas não são esses os únicos factores de isolamento, uma vez que é também esta, uma crise democrática.
A desconfiança gerada em torno das instituições tem origem nos próprios órgãos governamentais. O actual défice democrático tem vindo a ser cultivado, ora pela constante quebra da promessa política (banalizando a expressão democrática em si), ora pela mistificação do acesso aos meios governativos. O poder político tem assumido características hierárquicas muito vincadas, continuando a determinar uma barreira entre os cidadãos e as instituições, apesar das ferramentas modernas à disposição da sociedade. Não só na frequente negação do acesso à informação podemos encontrar uma barreira, como também o ritual burocrático desse acesso configura uma dificuldade, a negação da inclusão e da participação cívica. Como se pode justificar, em plena era da informação, uma alienação dos cidadãos em relação à democracia?
Sabemos que a era da “aldeia global” em que vivemos, pode significar, em determinadas situações, cenários informativos excessivos, banalizáveis e que os meios comunicacionais — em particular, a internet —, não estão dotados ainda de uma capacidade universal, passível de configurarem neles mesmos, uma resposta única. Contudo, a instrumentalização desses meios com vista a aumentar o fosso entre as instituições e o cidadão é inaceitável para uma sociedade que se quer plural, sendo exigível dos órgãos soberanos uma política activa na estimulação das principais valências participativas destes media. Elevando esta preocupação a nível europeu, talvez seja possível construir alternativas ao isolamento dos países periféricos, facilitando o acesso das pessoas aos assuntos que sejam realmente dos seus interesses, para que neste rectângulo ocidental não seja fácil esquecer a União Europeia. por Rui Moreira
[1] McLuhan, Marshall (1962). The Gutenberg Galaxy. Toronto: University of Toronto Press.