Curtis, Adam (2011). All Watched Over by Machines of the Loving Grace. BBC Documentary Series, 3 episódios.

Recensão Em 1944, o escritor inglês George Orwell escreveu um livro que projectava o Mundo quarenta anos no futuro. A sociedade descrita no livro “1984” havia sucumbido ao controlo de um regime autoritário que monitoriza meticulosamente todas as acções dos seus cidadãos, assim como o acesso à informação, entre outros aspectos das suas vidas. No filme “2001 Odisseia no Espaço” realizado por Stanley Kubrick e escrito por Arthur C. Clark em 1968, o Homem do futuro vê-se confrontado com um monólito que propõe uma reflexão sobre a sua existência.

Em ambas as obras de ficção, visões utópicas da vida no futuro, a premissa para o desenrolar da história assenta na ideia de que as máquinas estariam confortavelmente instaladas entre os Humanos. E como estas histórias, muitas outras existem. No meu entender, se há algo que o Homem do presente poderá dar como certo, é que o futuro contará sempre com uma maior participação das máquinas, assunto que tem servido de pedra basilar para conceitos que abordam a problemática do poder. 

Julgo que foi este conceito básico que Adam Curtis utilizou como ponto de partida para os documentários “All Watched Over By Machines Of Loving Grace”. No entanto, a narrativa dos documentários não fica apenas pela teorização de hipóteses para o futuro, explora assuntos actuais recorrendo também a eventos do passado para fundamentar as suas visões.

Na minha opinião, as temáticas abordadas, independentemente da sua origem, procuram direccionar o espectador para a questão política inerente à matéria (o paradigma social em que vivemos, as formas como nos relacionamos entre indivíduos, os termos em que somos governados, entre outros) e assim provocar a reflexão/discussão do assunto.

As visões apresentadas, envolvem na sua maioria uma crítica ao Capitalismo e ao objectivo do contínuo crescimento económico, assim como a correntes de pensamento alternativas (também essas falhadas), quase sempre num espectro político de direita (associações ao individualismo, estratificação da sociedade, diferenciação do indivíduo, etc.). Por vezes, são feitas referências a aspectos do Comunismo e da Anarquia, ignorando (ou rejeitando) soluções moderadas no espectro político de esquerda.

Para concluir, as breves referências sobre a liberdade do indivíduo e da corrupção política que pairam um pouco sobre todos os documentários, servem, na minha opinião, para emoldurar as decisões quanto às filosofias e correntes ideológicas descritas anteriormente. Com isto, todas as peças que compõem a narrativa documental, parecem estar em perfeita sintonia para fundamentar o papel que a Máquina (o Homem) terá na sociedade. por Rui Moreira

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